Uma expatriação, seja pra que lugar for, é uma experiência
incrivelmente transformadora. Ao abrir mão de toda uma vida que você construiu,
se despedir da família, empacotar tudo e ir morar em outro país, a pessoa, de
certa forma, acaba se despedindo de si mesma também. O que acontece é que
quando você muda de país, de língua, de rotina, mudam também suas prioridades,
sua visão de mundo, sua forma de encarar a vida. Isso aconteceu comigo na minha
primeira expatriação pra Roma, mas imagino que vai acontecer em bem maior grau
nessa temporada de dois anos na China. Por quê? Simplesmente porque aqui tudo,
absolutamente tudo, é diferente do Brasil!
O primeiro susto eu tomei ainda dentro do avião, quando nem
tinha pisado em solo chinês e me entregaram um formulário que, na prática,
queria saber se eu estava, por acaso, trazendo alguma doença pra cá. Foi
inevitável lembrar as milhões de vezes que, em viagem pela Europa, encontrei
com chineses turistando com suas máscaras brancas. Foi exatamente isso que você
leu, máscaras! Tipo aquelas usadas por médicos em cirurgias sabe? Pois bem, na
hora, lembrei dessa cena tantas vezes vistas e só consegui pensar que os
chineses devem achar que nós, ocidentais, somos seres exóticos, curiosos e
cheios de doença. Que injustiça! Tenho alergia, rinite, sinusite e asma, mas me
considero muito saudável.
O fato é que saí do avião meio desconfiada, com a sensação
de que poderiam aparecer de repente e me levar pra fazer diversos exames
médicos e confirmar as minhas respostas no formulário. Mas, eu estava em
Xangai, não num filme do 007 e ao invés de ir fazer exame médico, fui passar
pela imigração e alfândega mesmo.
Aliás, por falar em alfândega, essa era uma preocupação bem
mais realista do que a do exame médico. Nós estávamos vindo pra China pra morar
por, no mínimo, 2 anos. Éramos 3 pessoas e trazíamos ao todo 12 malas. 12! Eu
tinha absoluta certeza de que seríamos parados na alfândega e que teríamos que
abrir todas aquelas malas, responder milhões de perguntas e perder muito, muito
tempo. Depois de 24 horas de viagem, tudo que eu não queria era ter que ficar
horas na alfândega explicando em inglês cada coisa estranha que eles
encontrassem na minha bagagem. Se bolsa de mulher tem de tudo, imagina as malas
de uma mulher que vai passar 2 anos do outro lado do mundo.
Sorte a nossa que o oficial da alfândega estava com mais
preguiça que eu e quando olhou pra aquelas pilhas de malas se limitou a
perguntar de que país éramos. Respondemos: "Brasil". Ele sorriu e nos
deixou passar. Oi? Não entendi! O que isso significa? Não faço a menor ideia e
nem parei pra perguntar. Preferi entender como um sinal de boa sorte e um
gentil gesto de boas vindas.
Logo que passamos da alfândega, já vimos o motorista que
estava nos esperando pra nos levar ao hotel. Acho que ele não sabia uma única
palavra em inglês, se limitava a sorrir e a fazer gestos. Nós sorríamos e
fazíamos gestos em retribuição e essa foi toda a nossa comunicação. Aliás, uma
dica básica pra alguém que está viajando é sempre ter o endereço do lugar onde
você vai se hospedar escrito na língua local. Isso pode ser útil em qualquer
lugar do mundo, mas na China é fundamental já que as suas chances de encontrar
um motorista que fale inglês são consideravelmente reduzidas.
Dica boa também é viajar sempre com o mínimo de bagagem
possível. Sei o quanto é difícil organizar uma mala e o quanto sempre temos
certeza de que se não levarmos alguma roupa é exatamente ela que vamos querer
usar na viagem, mas acreditem, quanto menor sua bagagem mais fácil é sua
locomoção e isso pode ser bem bacana quando você está viajando, principalmente
quando é uma viagem que inclui vários lugares diferentes e, consequentemente,
vários deslocamentos.
Mas, ao chegar em Xangai, nós estávamos com muita bagagem e
ficamos um bom tempo vendo o motorista tentar fazer a mágica de colocar todas
aquelas malas no carro, o que, pasmem, ele conseguiu. Apesar de exaustos, isso
nos rendeu boas risadas porque pela primeira vez nos deparamos com uma
característica muito comum no chinês, fazer as caras e bocas mais engraçadas e
soltar uns sons mais engraçados ainda enquanto estão tentando fazer alguma
coisa difícil.
Superado o dilema de "como fazer 12 malas caberem num
único carro (grande, obviamente)", viemos pro hotel onde vamos dormir essa
primeira noite. Só amanhã vamos pro apart onde ficaremos até encontrar um apartamento pra alugar. Por
quê? Porque amanhã passaremos por exames médicos OBRIGATÓRIOS. Juro!
Sabe aquela história no início do post de que não estávamos num filme do 007???
Começo a não ter tanta certeza assim!!!
Atualizando: Os exames médicos são necessários pra quem quer
permanecer no país. Chegando à China, você tem um mês pra regularizar sua
situação e, pra isso, tem que passar por esses exames. Achei que isso nos
faria perder um tempão, mas em uma manhã passamos por todos os exames (consulta
com um clínico geral, exame de sangue, ultrassonografia, exame oftamológico, etc.). O
resultado vem depois pelo correio. Igualzinho no Brasil, né?
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