terça-feira, 28 de abril de 2015

Custo de vida em Xangai

Todo mundo me pergunta sobre o custo de vida aqui comparado com o do Brasil. Bom, só pelo fato da moeda chinesa estar valendo mais ou menos a metade da nossa, já posso te dizer que no início a gente toma 5 sustos por dia com o preço das coisas. Deveria ser o contrário? Talvez! Mas acho que o que acaba acontecendo é que os números aqui são mais altos do que a gente está acostumado.

Deixa eu tentar explicar, uma coisa que seria x em real, na moeda local é 2 x, ou seja, as quantias que a gente lida no dia a dia aqui são maiores. O que rola é que você vai ali no supermercado pra fazer uma compra pra semana, gasta 700 yuan (moeda local) e toma aquele sustinho, mas aí você lembra que equivalem a 350 reais ou 100 euros mais ou menos e percebe que não é assim tão ruim.   

Mas, esse assunto "ida ao supermercado" merece um post mais completo, com fotos e detalhes que valem a leitura (ir ao supermercado aqui pode ser uma grande aventura)! Então, vou começar por um tema mais simples: diarista (a alegria de toda mulher!).

Gente, melhor que uma casa recém faxinada é só uma casa recém faxinada sem ter sido você a fazer a limpeza pesada né? Confessa!

Brincadeiras à parte, a maioria das expatriadas que conheço largou emprego pra vir acompanhar o marido. São mulheres que sempre trabalharam fora e que hoje estão achando bacana ter tempo pra cuidar da própria casa, manter tudo limpo e arrumadinho.

Mas, por mais cuidado que você tenha, não tem jeito! De tempos em tempos tem que rolar uma faxina pesada, o que não é o programa dos sonhos de ninguém (ou é???). Ou seja, diarista é muito amor! E aqui em Xangai é... rufem os tambores... bem mais BARATO do que no Brasil (tomando como parâmetro o Rio de Janeiro, onde eu morava). Quer notícia mais linda?

Minha diarista daqui me cobra 25 yuan (R$12,50) por hora. Como ela demora 4 horas pra fazer a faxina no meu apartamento (que tem 3 quartos, 2 banheiros, sala grande e cozinha), a faxina sai a R$50 - eu disse CINQUENTA REAIS. Não sei no seu mundo, mas no meu esse preço é muito bom!

Pra você ter uma ideia, dois anos atrás eu pagava R$100 a faxina do meu apartamento de 2 quartos, 1 banheiro, uma sala pequena e uma cozinha no Rio.

E tem mais um detalhe muito fofo e útil! No primeiro dia em que a diarista veio fazer a faxina, eu estava aqui esperando por ela e pensando em como nos comunicaríamos, já que ela provavelmente não falaria inglês. Eis que me surge ela com um enteado a tiracolo que fala inglês e é uma simpatia! Ele veio, fez o papel de tradutor pra nós duas e deixou o número de celular caso eu quisesse dizer mais alguma coisa pra ela durante a faxina. Problema de comunicação resolvido!

E a faxina??? É a melhor que já vi? Não. Mas é boa. Quebra um super galho e me libera tempo pra fazer coisa bem mais legal do que lavar banheiro e limpar janela! 

Então, no nosso primeiro item, diarista, ponto pra Xangai!

Já sei o que você está pensando, diarista não é item de necessidade básica. Ok, ok, vou já postar sobre custo de comida, transporte, moradia, etc, etc. Mas, é sempre bom começar com boas notícias, né não??!!

domingo, 26 de abril de 2015

Um mês de Xangai

Quando estava há exatos 30 dias em Xangai, escrevi (e publiquei no facebook) um resumão das minhas primeiras impressões. Ainda estava morando em um flat. Ainda estava vivendo bem superficialmente a vida real daqui. Ainda tinha aquela sensação de ser turista. Mas já tinha dado pra perceber que seria (quase) tudo diferente da vida que levávamos em Roma (o último lugar em que moramos antes de vir pra cá). Enfim, estão aí minhas primeiras obervações sobre a vida em Shanghai:


- Sabe aquela cidade de filme futurista? Aquela com céu esbranquiçado, torres diferentes e ruas suspensas? Xangai!

- Mas na próxima esquina você pode ser catapultado pra outro filme, um daqueles sobre uma cultura milenar, com direito a templo budista, pontes fofas cortando riozinhos mais fofos ainda, lanternas vermelhas, pagodes, enfim cenário completo.

- Tudo que vem do ocidente, inclusive comida, é bem caro aqui!

- 600.000 mil pessoas vêm morar em Shanghai por ano. E a cidade me parece muito bem preparada pra receber essa galera. Ou seja, Xangai tá longe de ser um lugar exótico, sujo e provinciano que muitos brasileiros pensam.

- Por exemplo, escola internacional tem de monte e a estrutura delas é coisa de filme. Só a escola da minha filha tem mais de 50 ônibus que buscam os alunos em casa e depois levam de volta todos os dias. As aulas disponíveis vão de golfe a cultura latino-americana, passando por atividades assistenciais, culinária asiática e arte e design.

- O trânsito é caótico, se você deixar uma coisa cair no chão ninguém vai te avisar, se parar no meio do caminho vão te atropelar. É a vida numa cidade de milhões de habitantes. É a lei da selva. Selva de pedra e de olhos puxados.

- As crianças chinesas são lindas, com as caras mais redondas e as bochecas mais rosadas do mundo. E pra minha surpresa, pais e mães, mesmo em público, são efusivos nas demonstrações de amor aos seus pequenos.

- Alugar um bom apartamento pode ser uma experiência bizarramente semelhante a comprar alguma coisa num mercado popular e informal. É a arte da barganha, do ganha lá dá cá, da esperteza.

- Em Xangai gafanhoto, barata e cachorro não são a base da alimentação. Essa piada não é só tosca, é falsa mesmo. Aliás, durma com esse barulho, me parece que eles comem de forma bem mais saudável e equilibrada que nós. Muito legume (muito mesmo), frango, mais cozidos que fritos. (Mas minha sensação é que eles põem pimenta em tudo!)

- Por outro lado, não sei se é algum tempero ou o que, mas decididamente não gosto do cheiro da comida de rua chinesa. Eu passo na frente de restaurantes chineses e o cheiro é um convite (pra manter distância).

- Numa cidade absurdamente grande como essa tem de tudo, é só ter paciência pra procurar e dinheiro pra pagar. Mas se você tiver procurando casa de massagem, aí é mole. Só virar a esquina.

- Táxi é barato e o metrô funciona muito bem obrigada. Ainda não me aventurei a pegar um ônibus. Se errar o ponto, já era.

- A coisa que ouvi bastante antes de vir foi que o ruim da China é o chinês. Talvez. Mas com certeza o bom da China também é o chinês. Aliás, convenhamos que poderíamos falar a mesma coisa de qualquer lugar do mundo, inclusive do Brasil.

A primeira impressão

Uma expatriação, seja pra que lugar for, é uma experiência incrivelmente transformadora. Ao abrir mão de toda uma vida que você construiu, se despedir da família, empacotar tudo e ir morar em outro país, a pessoa, de certa forma, acaba se despedindo de si mesma também. O que acontece é que quando você muda de país, de língua, de rotina, mudam também suas prioridades, sua visão de mundo, sua forma de encarar a vida. Isso aconteceu comigo na minha primeira expatriação pra Roma, mas imagino que vai acontecer em bem maior grau nessa temporada de dois anos na China. Por quê? Simplesmente porque aqui tudo, absolutamente tudo, é diferente do Brasil!

O primeiro susto eu tomei ainda dentro do avião, quando nem tinha pisado em solo chinês e me entregaram um formulário que, na prática, queria saber se eu estava, por acaso, trazendo alguma doença pra cá. Foi inevitável lembrar as milhões de vezes que, em viagem pela Europa, encontrei com chineses turistando com suas máscaras brancas. Foi exatamente isso que você leu, máscaras! Tipo aquelas usadas por médicos em cirurgias sabe? Pois bem, na hora, lembrei dessa cena tantas vezes vistas e só consegui pensar que os chineses devem achar que nós, ocidentais, somos seres exóticos, curiosos e cheios de doença. Que injustiça! Tenho alergia, rinite, sinusite e asma, mas me considero muito saudável.

O fato é que saí do avião meio desconfiada, com a sensação de que poderiam aparecer de repente e me levar pra fazer diversos exames médicos e confirmar as minhas respostas no formulário. Mas, eu estava em Xangai, não num filme do 007 e ao invés de ir fazer exame médico, fui passar pela imigração e alfândega mesmo.

Aliás, por falar em alfândega, essa era uma preocupação bem mais realista do que a do exame médico. Nós estávamos vindo pra China pra morar por, no mínimo, 2 anos. Éramos 3 pessoas e trazíamos ao todo 12 malas. 12! Eu tinha absoluta certeza de que seríamos parados na alfândega e que teríamos que abrir todas aquelas malas, responder milhões de perguntas e perder muito, muito tempo. Depois de 24 horas de viagem, tudo que eu não queria era ter que ficar horas na alfândega explicando em inglês cada coisa estranha que eles encontrassem na minha bagagem. Se bolsa de mulher tem de tudo, imagina as malas de uma mulher que vai passar 2 anos do outro lado do mundo.

Sorte a nossa que o oficial da alfândega estava com mais preguiça que eu e quando olhou pra aquelas pilhas de malas se limitou a perguntar de que país éramos. Respondemos: "Brasil". Ele sorriu e nos deixou passar. Oi? Não entendi! O que isso significa? Não faço a menor ideia e nem parei pra perguntar. Preferi entender como um sinal de boa sorte e um gentil gesto de boas vindas.

Logo que passamos da alfândega, já vimos o motorista que estava nos esperando pra nos levar ao hotel. Acho que ele não sabia uma única palavra em inglês, se limitava a sorrir e a fazer gestos. Nós sorríamos e fazíamos gestos em retribuição e essa foi toda a nossa comunicação. Aliás, uma dica básica pra alguém que está viajando é sempre ter o endereço do lugar onde você vai se hospedar escrito na língua local. Isso pode ser útil em qualquer lugar do mundo, mas na China é fundamental já que as suas chances de encontrar um motorista que fale inglês são consideravelmente reduzidas.

Dica boa também é viajar sempre com o mínimo de bagagem possível. Sei o quanto é difícil organizar uma mala e o quanto sempre temos certeza de que se não levarmos alguma roupa é exatamente ela que vamos querer usar na viagem, mas acreditem, quanto menor sua bagagem mais fácil é sua locomoção e isso pode ser bem bacana quando você está viajando, principalmente quando é uma viagem que inclui vários lugares diferentes e, consequentemente, vários deslocamentos.

Mas, ao chegar em Xangai, nós estávamos com muita bagagem e ficamos um bom tempo vendo o motorista tentar fazer a mágica de colocar todas aquelas malas no carro, o que, pasmem, ele conseguiu. Apesar de exaustos, isso nos rendeu boas risadas porque pela primeira vez nos deparamos com uma característica muito comum no chinês, fazer as caras e bocas mais engraçadas e soltar uns sons mais engraçados ainda enquanto estão tentando fazer alguma coisa difícil.

Superado o dilema de "como fazer 12 malas caberem num único carro (grande, obviamente)", viemos pro hotel onde vamos dormir essa primeira noite. Só amanhã vamos pro apart onde ficaremos até encontrar um apartamento pra alugar. Por quê? Porque amanhã passaremos por exames médicos OBRIGATÓRIOS. Juro! Sabe aquela história no início do post de que não estávamos num filme do 007??? Começo a não ter tanta certeza assim!!!

Atualizando: Os exames médicos são necessários pra quem quer permanecer no país. Chegando à China, você tem um mês pra regularizar sua situação e, pra isso, tem que passar por esses exames. Achei que isso nos faria perder um tempão, mas em uma manhã passamos por todos os exames (consulta com um clínico geral, exame de sangue, ultrassonografia, exame oftamológico, etc.). O resultado vem depois pelo correio. Igualzinho no Brasil, né?      

Começando os trabalhos

Primeiro post. Hora das apresentações. Momento sempre tenso. Será por que né? Talvez por causa daquele maldito ditado popular da primeira impressão é a que fica. Aí a gente vai vivendo com aquela sensação de que sempre tem que dar a vida numa apresentação porque aquela imagem inicialmente formada vai ser eterna. Coisa que convenhamos, além de injusta, é meio sem sentido. Se tudo sempre está em construção, mudando, se transformando, se a vida é um movimento constante, um conjunto de dias, semanas, anos, momentos, histórias, vitórias, frustrações, ganhos e perdas, que sentido faz ter uma ideia definitivamente acabada depois de um primeiro momento???? Nenhum, né não!?

Pois é! Mas, ainda que não seja definitiva, alguma apresentação tem que rolar (eu acho). Então, que seja. Esse é um blog totalmente despretensioso. Alguém que está vivendo imersa numa cultura totalmente diferente, vendo, ouvindo e vivendo um monte de coisa inusitada e que gosta de escrever resolve contar suas impressões, que, eventualmente, possam interessar a alguém (ou não). O objetivo é ir escrevendo sobre o que estou vendo e fazendo aqui e talvez um dia ajudar alguém que esteja pesquisando sobre coisas triviais dessa cidade tão enorme, fascinante e misteriosa, assim como eu hoje pesquiso e, na maioria das vezes, não encontro!


Nas minhas viagens pela Europa, as informações disponíveis eram sempre inesgotáveis. Lugares pra ir, como ir, o que fazer, de que jeito, fotos, mapas, tudo mastigadinho. Dava pra literalmente viajar pela internet mesmo antes de chegar fisicamente ao lugar. Sobre a China até existem alguns blogs, mas em número infinitamente menor. Aí já viu, informação vira item de luxo! 


Aí que eu me vi aqui, uma advogada que largou o emprego no Brasil pra acompanhar o marido que veio trabalhar na China (lê-se: uma pessoa que sempre trabalhou com a palavra e hoje tem tempo de sobra), e pensei: Por que não criar um blog??? Se ninguém se interessar, se eu não tiver nenhum leitor, ainda assim vai ter sido divertido preencher meu tempo escrevendo e talvez um dia alguém possa encontrar aqui alguma das informações que tenho penado pra achar.


É isso aí, pessoal! O motivo é simples e a casa também. Repara a bagunça não e pode entrar à vontade!